terça-feira, 26 de novembro de 2013

Por um Arranjo Produtivo Local (APL) da Sustentabilidade

Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio).


Os APLs estão sendo cada vez mais difundidos no Brasil e servem, via de regra, para que as empresas, com apoio de instituições acadêmica, de pesquisa e de fomento, possam se fortalecer e enfrentar conjuntamente as adversidades, sobretudo quando se instalam em locais que não tem uma tradição produtiva, como é o caso de regiões e cidades que não possuem indústrias. Muitas vezes, os APLs são considerados também como Arranjos Produtivos e Inovativos Locais, pela forte tendência que estas estruturas têm de promover a inovação e impulsionar novas formas de desenvolvimento (econômico, social e, possivelmente, ambiental).

A experiência recente mostra que os APLs são uma forte tendência dos governos em promover políticas públicas de combate às desigualdades regionais. É nesse contexto que propostas de novos APLs tem sido desenvolvidas pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), das diversas regiões do Rio Grande do Sul, como por exemplo o APL gaúcho de Gemas e Joias (da Região de Soledade), o APL Têxtil e Vestuário do Alto Uruguai Gaúcho (com foco em Erechim), o APL Carne do Pampa e o APL da Ovinocultura de Corte (ambos na Campanha e Fronteira Oeste), APL da Automação e Controle Eletroeletrônico (eixo Porto Alegre - Caxias do Sul) e mais desenvolvido de todos – o APL do Polo Naval (em Rio Grande). Na região Centro-Sul, engatinham dois projetos de APLs: o APL Automotivo, calcado na instalação da montadora chinesa de caminhões em Camaquã, e a expansão até esta região do APL do Polo Naval.

E Tapes? Nossa cidade está há pelo menos três décadas sofrendo com a inércia econômica e falta de projetos de desenvolvimento. O maior sintoma negativo deste quadro é a falta de alternativas de empregos e o êxodo de milhares de tapenses – sobretudo jovens - para outras regiões em busca de trabalho. Talvez, o único sintoma positivo seja o fato de que a ausência de indústrias tenha retardado a degradação ambiental dos imensos recursos que valorizam nosso território, como a Laguna dos Patos, as praias, regiões de ecossistemas ainda preservados e os Butiazais de Tapes (referência internacional). Estes sistemas frágeis sempre estiveram vulneráveis à poluição das emissões de esgotos e à pressão dos sistemas agrícolas, mas poderiam nem existir se aqui existissem indústrias poluentes. Na nossa visão particular, só existe um tipo de APL que seja viável no duplo efeito de promover trabalho e renda, desenvolvimento social e garantia de que os recursos ambientais sejam mantidos, melhorados, preservados e direcionados para o turismo sustentável: um APL da Sustentabilidade. Capaz de usar as credenciais ecológicas (em breve os Butiazais de Tapes serão uma Unidade de Conservação) e logísticas (Tapes está situada a uma centena de quilômetros da Capital, na margem de uma Rodovia que em breve estará duplicada) para desenvolver aqui um Arranjo Produtivo e Inovativo Local focado em empresas que gerem os chamados empregos verdes, não poluem e produzam tecnologias limpas para a geração de energias limpas (eólica e solar), tratamento de efluentes e gestão adequada de resíduos, desenvolvimento de produtos menos poluentes, prestação de serviços de pesquisas e de consultorias ambientais, entre outras possíveis. Não por acaso temos aqui uma Universidade Pública que oferece cursos de Gestão Ambiental e esta poderia ser a precursora deste APL, desenvolvendo, com apoio do Estado, um centro de pesquisas e uma incubadora de empresas verdes. Um APL da Sustentabilidade teria grande repercussão no meio empresarial de um País que gerará centenas milhares de novos empregos e negócios na chamada “economia verde”, com baixa ou nenhuma emissão de carbono. Já que um APL, antes de mais nada, trata do aproveitamento das sinergias geradas pelas interações entre seus diversos atores para fortalecer suas chances de sobrevivência e crescimento, constituindo-se em importante fonte de vantagens competitivas duradouras.

Rafael Fernandes (Consultor, Perito e Tecnólogo Ambiental; Especialista em Gestão Pública, Cursando MBA em Engenharia Sanitária e Ambiental)

Publicado no Jornal A Notícia, Ano II, Edição 23, pg. 6. Tapes, 2ª quinzena de 2013.





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